quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Na certeza do nada

Eu que sou apenas espaço vazio com estruturas invisíveis que ligam as minhas moléculas subatômicas formando esse meu corpo carnal, eu consigo ver o vazio, pensar no vazio, estar no vazio. Camadas e camadas de alma humana, incerta, incoerente, aparentemente ser humano complexo bioquimiometafísico, apenas uma grande cebola, cheio de camadas e camadas, de pedaços do mosaico da vida que ao final só tem vazio. 

Entre todas as incertezas da vida eu só corro atrás da certeza do nada, do som do silêncio, da visão cega que abrange o tempo não existente no centro do buraco negro. Viajando em pontes de Einstein-Rosen pelas galáxias da aura louca que segue perdida na busca pela chave do nada.

O nada é como o sol, que te dá vida se na distância correta mas te mata se perto ou longe demais, percorrendo o caminho de grama fluorescente daqueles que estão ao meu redor, o nada me faz devorar o tudo, porque afinal o que é o tudo se não um grande nada apenas esperando para ser encontrado?!

Eu me defendo com um escudo feito com os amores de todos que me cercam, rebato tristeza com luz, a todos aqueles que por um acaso tem enfraquecida suas chamas pelas malditas mazelas desse tudo que é a vida humana. 

Encho a vida por aí de abraços apertados, eu te vejo gente, te vejo receptáculo pronto para receber um abraço cósmico. Se um dia eu te oferecer nada, saiba que estou te oferecendo tudo e se você me ver vazio saiba que de fato você me viu gente, assim como vejo você.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sincronia solar

Parecia até que o sol tinha adivinhado naquele dia que nós dois estávamos em sincronia, pensamentos afastados fisicamente mas em permanente encontro quântico e porque não astrofísico? Do primeiro "Oi" no início do encontro ao primeiro beijo com o sol tocando a barra do mar para fazer carinho nas ondas, as conversas dos mais perfeitos temas faziam carinho nas nossas cabeças.

Aquele beijo quase de surpresa com aquele gosto de cravo pequeno e desejo de três anos atrás, o vestidinho que circundava aquelas pernas lindas que caminhando ou paradas realizam o mais perfeito movimento de ondas elétricas pelo meu corpo. 

A sábia sabia dos meus olhares mas ainda não sabia das minhas mãos e da minha boca. Depois do sol ir embora, em boa hora assim como o astro rei, nós fomos para um outro lugar ou foi outro lugar que veio até nós? Sei que os abraços, as mãos, os beijos (Ah aquele beijo Almodovár) Que dava vontade de não descolar a boca, que dava vontade de não descolar.

Enfim mas não ao fim, era a praia, o céu perfeito e o sol que nos deixou na sua despedida, agora nos presenciava na sua volta. Deitados, entrelaçados, quase perdidos porém encontrados um pelo outro. E diga lá coração, quando é que vou sentir esse toque de sua mão? Agora que aprendeu a ter asas, voa! Mas dia desses, pousa aqui na minha casa?

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A vontade há vontades

Quando você me deixou tão a vontade houve a vontade de muitas coisas mas todas elas ficaram contidas na minha fértil mente. Quando eu estava desconfortavelmente relaxado, tirando e colocando meu boné achando que isso iria me ajudar a não pensar besteiras pra falar com você.

Quando as vezes meu olhar cruzava no seu, meu cérebro dava choques. A velocidade com que o tempo passou chegou a ser injusta, estranho, muito estranho, as vezes é só a surpresa de uma presença tão boa que você tem vontade de não fazer mais nada e passar as horas ali.

Depois de tanto, de tantas vivências, ter alguém que ainda faz suas mãos suarem e te deixa sem saber o que pensar pra falar, alguém que ainda lhe exige improvisos e gestos nervosos, alguém que vai pra outra dimensão com você mas precisa voltar poque sair dessa dimensão aqui pode ser muito perigoso.

O despertar das melhores vontades e até de um desejo de mudança de hábitos por alguém simples, singelo e encantador, pode ser uma das melhores coisas na vida de quem já correu demais, já viu demais, já falou demais. 

As vezes só faltava alguém que te deixasse a vontade, e que você percebesse que há vontade de estar com esse alguém, mesmo sabendo se ele sequer vai estar com você, é tudo um risco e é tudo um desejo é tudo um nada e de nada serviria tudo isso se fosse pra não ficar a vontade. Em relação a mim, se há vontade, por favor, fique a vontade.


domingo, 10 de novembro de 2013

Sem açúcar, por favor

Acordei cedo, café forte e sem açúcar pra espantar o sono, a saudade amarga que me invade feito um bônus de estar vivo. Comprei uma pistola d'água de amor pra ver se mato essa sede de amar você. Espreguicei o ódio para longe, fiz um mantra com seus nomes e depois risquei todos os velhos nomes do caderno e descobri que atualmente o caderno ainda tem nomes demais.

Tomei um banho de paz pra poder enfrentar o dia mas a saudade de você me perseguia, sem guia eu passei em cada esquina da esquizofrenia aguda de ver vocês em todo lugar. As feridas sentimentais trazidas estão todas infeccionadas e saindo sangue e pus, é preciso tratá-las para que no mínimo ao final de tudo isso consigamos pelo menos andar sozinhos.

Na insônia da solidão eu acordei no meio da madrugada pensando em toda a vontade de que as suas pernas estivessem gostosamente entrelaçadas na minha cintura. Acordei cedo, café forte e sem açúcar pra espantar o sono, desnecessário, a saudade de vocês já me deixam acordado o bastante.

Bendita droga que meu corpo pede, vicio constante de estar em constante mudança, a minha vida no singular não existe. Tem que ser vocês, tem que ser de vez, tem que ser intenso, tem que me fazer escrever do nada, no meio da madrugada. 

De plural em plural eu vou singularizando a minha vivência e quase que sem consciência vou colocando propositalmente os pés pelas mãos só pra ver até onde eu consigo me dobrar e me desdobro só pra ver os sorrisos, sejam eles fortes e sem açúcar ou com leite e muito mel.

Acordei cedo, café forte e sem açúcar pra espantar o sono, um bom suco de maracujá pra espantar a insônia que bota culpa no café mas na verdade é tudo culpa da minha cabeça.

♪"Era um sentimento muito engraçado
  Era incorreto e atrapalhado
  Mas era feito com muito esmero
  Esquina da desilusão, cérebro com o coração
  Número zero"♫

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Muito mais que carne e um pouco mais que osso

E era como se lhe rasgasse a alma toda vez que ela cravava as unhas em suas costas. Se afogava sem desespero no desejo desesperado por seu beijos encantados. Era feliz aprisionado no seu olhar de calabouço que calava profundamente aquele sentimento arrancado de um bolso sem fundo das cavas das válvulas do maldito coração. Era o nome dela que corria nos labirintos infindos das sinapses dos seus neurônios em uma repetição louca de tudo que há de mais coerente na incoerência daquelas sensações. 

Era nos cabelos dela que ele se amarrava todas as noites para não despencar da sua cama de estrelas flamejantes saídas diretamente da pupila dilatada dos olhos do seu amor. Em suas curvas batia e se despedaçava dirigindo embriagado pela paixão do seu quadril maravilhoso. Se alimentava no seu seio, achando que podia curar os seus anseios de ser homem para toda aquela mulher. 

Percorria abestalhadamente todo o seu corpo nu deitado de costas enquanto o seu cérebro não deixava ele esquecer o copo de Whisky na mão, para o mesmo não vir ao chão. Era da boca daquela mulher que ele ouvia os mais perfeitos sons, com ou sem sentido, que o deixavam surdo para o maldito mundo que existia além das paredes do apartamento apertado, que sem vizinhos ao lado, fazia o silêncio perfeito para que ele pudesse apenas a ela escutar. 

Era naqueles ouvidos que as suas lindas palavras eram depositadas em verdades subjetivas que só ela merecia escutar. Foi naquela alma que ele depositou toda a sua vida o único direito de amar e foi assim do dia em que seus olhos se cruzaram até o último suspirar.

sábado, 2 de novembro de 2013

Meu? Seu?

Então me diga, quem pertence a você? E você, pertence a quem? Sinceramente, justificas posse com suposto amor, achas que porque uma mente roda ao teu redor ela é tua? Não, não é. Seres humanos são seres complexos, que para além da matéria biológica são feitos de histórias, boas e ruins, sorrisos, lágrimas e conversas sem sentido algum. 

Há quem tente segurar, manter-ser firme, mas está cercado, obcecado pelo mundo maldito que o formou. Ser possessivo, ver aquele o qual tu dedicas o teu sentimento como alvo da sua posse, pobre sofredor coração formado por um "Dysneiano" mundo... Todo sentimento humano é uma experiência única e individual que corre o risco gostoso de encontrar reciprocidade no outro. Caso contrário, não justifica posse, não justifica montar castelos de baralhos que vão cair na sua primeira desilusão, você não pode adivinhar a vontade do outro, só pode torcer pra ser a mesma que a sua e se não for, saiba deixar toda vontade ir, outras virão (Sempre vem).

A liberdade de ver alguém que se ama, feliz, radiante, dando pulos, é incrível, saber reconhecer que as suas necessidades não são as do outro, passar um bom tempo se dedicando a si mesmo, dedicando cuidado a quebra de tudo que foi posto na sua mente desde sempre e então renascer, novo de novo. Doar-se sem esperar a volta, apenas gratidão, estar no lugar da alegria daquele ou daqueles, sim, por que não? Daqueles que de fato o teu sentimento parte, e entender a alegria de saber que o pronome possessivo não lhes cabem. 

Existe o dia em que toda a reciprocidade acontece e é lindo, livres voadores que pousam juntos, e repousam, e se complementam, e se entendem, e desentendem como ninguém, como quem está sempre a falar: não sou seu, não és meu, somos de nós o que de nós somos, apenas nós que se encontram em mente e coração, não mais sozinhos, sem pertencer pertencendo. Sempre nós dois a sós. E quem pertence a alguém de nós? Somente a verdade das paredes e dos lençóis.