sexta-feira, 25 de abril de 2014

A gota

"Enquanto o azul se desfaz
em poeiras cósmicas
E um branco
Raio de Zeus
Eu não posso definir
Quais amores
são meus
e são teus

Enquanto a boca seca
Clama por eclipse lunar
A minha boca molhada
Clama teu eclipse solar
Enquanto o grau
Passa pela mao
A temperatura fria
Da impressão moral fria
Crua
E cruel
Como quem vai pintar
O arco iris
em cor pastel

Mas no final te dou o mel
Que adoça o céu
O paraíso mel
Nunca experimente meu fel"

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sobre listras e espinhos

Os espinhos fazem parte de todas as flores e completam sua beleza (pra quem?) 
estão presos, colados, agarrados a sua essência que aproxima pela exuberância de suas cores fazendo qualquer distraído se furar, 
ao tirar os espinhos de uma flor, flor ela ainda continua a ser? 
Você imagina um tigre sem as suas listras? 
Imagina um tigre se desfazendo daquilo que o torna tigre em si?

Gosto de estar em meio aos rejeitados (sou um deles) 
gosto da madrugada 
gosto quando passa da meia noite. 
Fico detestável quando chega as seis da manhã 
apesar de achar o sol nascendo uma das cenas mais lindas, 
é só pra isso que as seis da manhã servem.

Mas também gosto da calmaria que antecede tudo 
gosto de ter onde me deitar, 
onde olhar núcleos que fervem como sóis queimando dentro da iris cercada pelo rosto enfeitado pelo sorriso espontâneo de quem acabou de dar e receber amor...

Negar a todas essas coisas seria como se um tigre negasse as suas listras 
e reduzir tudo isso a simples loucura de uma mente quase incompreendida 
seria como reduzir toda a beleza das flores a um mero truque para fazer com que se cortem, 
como se as próprias flores não sentissem também o gosto do sangue daqueles que distraídos se cortam 
ou como se o tigre não se orgulhasse de tudo que o torna ele.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Caçador de cores

"Voltando para casa
Com potes cheios de borboletas arco-íris
Eu espeto uma por uma no isopor
Enquanto arranco suas asas multicoloridas
E coloco num "dichavador"
Depois de bem moídas
Coloco as asas diante do meu cachimbo
Feito de madeira da última floresta
Da última nação em que existia amor
Acendo com um palito de fosforo branco
E me entorpeço da fumaça multicolorida
Depois sento calmamente
Na minha poltrona feita de couro de unicórnio
Enquanto leio as manchetes nos jornais:
AMOR É ENCONTRADO MORTO NUMA VALA,
Razão vai presa e diz:
“Dei dois tiros na cabeça,
Claro que eu tinha intenção de matar”
Entro no quarto
Ainda sob efeito da fumaça colorida
Na gaveta eu pego minha última reserva de pó de estrela
Enquanto chove lá fora
Eu abro a janela e deixo um raio atingir a minha cabeça
As manchetes dos jornais continuam feias
Eu preciso sair daqui
Preparo um chá com as flores fluorescentes que brotam das nuvens
Como última tentativa de conseguir ver todas as cores
No outro dia leio a manchete:
"Homem encontrado morto vivo após overdose multicolorida"