sábado, 11 de janeiro de 2014

Electromagnetismo

Quando sentaram sob aquela sombra dos concretos pintados, aquele ventinho gostoso bateu nos rostos dos dois e ele olhou com calma pra ela, foi algo tão forte que ele não teve coragem de tirar os óculos por um tempo. Uma parada, um intervalo no tempo, nunca cinco minutos de conversa passaram tão rápido e tão devagar ao mesmo tempo...

   "Calma, vamos conversar um pouco mais, me conte mais de você"

Um sorriso tímido nos lábios dela e ele um tanto quanto encantado. Só teve coragem de tirar os óculos escuros depois que a beijou pela primeira vez, o beijo que o fez sentir-se fora do chão, aquele beijo naquela boca quase que desenhada pelo mais talentoso artista, que se encaixava perfeitamente com a dele, aquele primeiro beijo e o sentimento de ter estado, por alguns segundos, num transe perfeito logo depois que as bocas se separaram. 

A sensação de que ela tinha um electromagnetismo, fazia ele acreditar ser feito de metal. A calma simples no toque, cada pedaço de verdade contido nos gestos, os carinhos sem pressa, parecia que o tempo estava parado ali.

Olhar nos olhos dela foi como colidir com o espaço sideral puro, como se naquele olhar estiveram contidas milhões de sensações que ele adoraria se arriscar em experimentar, ela olhou de volta, você sabe como é olhar pra um lugar tão lindo que dá vontade de ficar olhando pra sempre?

O discurso dele sobre liberdade, sobre as formas de amar as pessoas, de amar uma pessoa só ou de amar todas, como se vivesse mil vidas, como se quisesse mostrar todas as vidas pra ela. 

Infelizmente o tempo não parou, ela precisava ir embora, as mãos dadas até o fim do caminho e a certeza de que muito mais iria acontecer depois, davam um certo alívio na despedida, o depois, a noite a dentro, tudo adentrando a alma que se espremia em palavras na tentativa de fazer carinho na alma dela, até o boa noite. Duas despedidas no mesmo dia, era demais pra ele.
      

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Silênciosa

Ainda me lembro quando ela desceu as escadas com aquele vestidinho preto, numa sexta feira, naquele calor desgraçado, a cerveja parecia fazer um milagre no meu corpo, ficou tão pouco, deu nem deu tempo de conversar... A timidez concentrada de uma pisciana cheia de ideias, cheia de coisas pra falar. 

Tudo preso num silêncio eloquente, tímido, outros dias se seguindo, atrás do casarão, um, dois, três, muitos beijos... Uma parada, outras pessoas, outras vontades. O punho cerrado no espelho de Vênus desenhado no ombro direito, deixavam algumas coisa bem claras, não vá de vez, também não tenha medo, ela é doce, ela é mulher, ela é ela. 

Aquele silêncio eloquente falava tantas coisas no olhar, os ramos de flores que subiam da sua perna davam a impressão que ela fazia nascer vida por onde passava, traz em si uma vontade de ouvir, mesmo quando ela não quer falar, eu no meu jeito falastrão de quem se acha, conseguia manter conversas com ela, admirada ela foi tentando me sacar e perdeu o medo de falar.

Hoje é uma troca de lindeza, de ideias, de conselhos até, cheia de si mesmo, precisa compartilhar tanto, tanta personalidade contida, como se fosse uma panela de pressão, tem um beijo bom, um abraço gostoso, uma pele gostosa de tocar e uma mente admirável, o jeito meigo de falar dá vontade de encostar o ouvido, é alguém que não se deve deixar passar, que você acolhe, que você planta e colhe.

"É sério que escrevi isso?"

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Termodinâmica

Em cada passo que ficou pra trás, passa uma multidão de sentimentos alheios ou não. São descontinuidades, quebras de pontos fixos, que aparentemente você achava que não iriam passar. Você se lembra da última vez que se pegou achando que iria parar em algum ponto?

A verdade é que existe uma dinâmica louca nas coisas todas, mesmo quando você tem aquela sensação de que tudo parou. Existem pessoas, lugares, momentos que são o nosso -273ºC, o nosso zero absoluto, a sensação do fim do movimento de todas as partículas, conhecidas ou não, do nosso corpo, do nosso tempo, da nossa vida.

Mas na verdade, essas pessoas, lugares, momentos, são apenas o nosso -272,9ºC, apenas te fazem sentir, achar, chegar perto de pensar de que tudo parou, mas o movimento constante da vida te arrasta e te faz perceber que o seu zero absoluto é uma ilusão absolutamente movimentada. 

E como é bom o movimento, como é gostoso sentir-se vivo, aquele abraço, aquele beijo, que não tem sequer vinte e quatro horas e você ainda sente na pele, aquele toque quente que reage quimicamente na mágica biológica das almas que se encontram em um  plano fisicamente desconhecido e metafisicamente real.

Não procure pelo seu zero absoluto, pelo contrário, procure pelo o que te faz entrar em ebulição o que te derrete o coração, descongela o cérebro e aquece a alma, procure pelo olhar onde dar prazer mergulhar. Não seja o zero absoluto de ninguém, quando tudo parecer congelar, movimente-se e só pare quando for aquela pele que te faz sentir-se quente, até quando você se sente no seu zero absoluto.