"Eram porões lotados que cruzavam o mar
levando minha gente para qualquer lugar
era rato, doença, sujeira e miséria
era mais um corpo que sucumbia
mais vento que sobrava nas velas
Eram correntes, açoites e um mercado
olhavam nossos dentes, nosso tamanho
como carga a ser avaliado
era o senhor que mandava
o chicote estalava
mas mesmo assim a gente cantava
vieram reis, rainhas e princesas
crianças perdiam a sua pureza
e o chicote estalava numa noite sem estrela
num golpe deles a lei que nos libertou
não tem sequer a nossa cor
Antes era o chicote na mão do feitor
antes era a ordem que vinha do senhor
agora é o cassetete na mão do fardado
agora vem a ordem do novo senhor engravatado
antes nos quilombos nos corres contra a morte
agora é na quebrada tendo que contar com a sorte
O sangue corre pela escadaria
lá de cima eu ouço Maria
desesperada...foi mais um zé
mas você não viu
antes morria na garruncha
agora é no fuzil
E dos novos senhores de engenho
ódio é o que eu tenho
mas é bom não desacreditar
porque quando a revolta juntar
não vai ficar um pra escapar
antes era aquele maldito porão
agora é o maldito camburão a me transportar"
- Cosmos
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