terça-feira, 17 de junho de 2014

Porões

"Eram porões lotados que cruzavam o mar
 levando minha gente para qualquer lugar
 era rato, doença, sujeira e miséria
 era mais um corpo que sucumbia
 mais vento que sobrava nas velas

 Eram correntes, açoites e um mercado
 olhavam nossos dentes, nosso tamanho
 como carga a ser avaliado
 era o senhor que mandava 
 o chicote estalava
 mas mesmo assim a gente cantava

 vieram reis, rainhas e princesas
 crianças perdiam a sua pureza
 e o chicote estalava numa noite sem estrela
 num golpe deles a lei que nos libertou
 não tem sequer a nossa cor

 Antes era o chicote na mão do feitor
 antes era a ordem que vinha do senhor
 agora é o cassetete na mão do fardado
 agora vem a ordem do novo senhor engravatado
 antes nos quilombos nos corres contra a morte
 agora é na quebrada tendo que contar com a sorte

 O sangue corre pela escadaria
 lá de cima eu ouço Maria 
 desesperada...foi mais um zé
 mas você não viu
 antes morria na garruncha
 agora é no fuzil

 E dos novos senhores de engenho
 ódio é o que eu tenho
 mas é bom não desacreditar
 porque quando a revolta juntar
 não vai ficar um pra escapar
 antes era aquele maldito porão
 agora é o maldito camburão a me transportar"

 - Cosmos 


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